Era quarta feira. Mais um dia de estudos, devocional, conversinhas, sono. Rotina de vestibulando. Só que...no meio da tarde, estudar perdeu o sentido, de repente. Simples assim. Era apenas um dia depois de ter visitado a USP para assistir uma aula de publicidade, o que era mais estranho ainda(estar assim). Acreditei que não sabia por que estava tão cansada. Então fui descansar. Só que o descanso se prolongou por dois dias e a vontade de fazer QT(devocional) também perdeu o sentido. Sábado, então, fui caminhar, meio desesperada por dentro, mas sem querer pensar. Para ver se me convencia que estava simplesmente sendo indisciplinada e doida.
Até que domingo eu percebi que não quis entregar um culto a Deus. Confusa, saí do lugar, no final do culto, e cumprimentei o pastor. Ele me pergunta se venho estudando e digo que sim. Só que choro e digo que sinto uma tremenda insegurança. Aí, percebo que talvez eu realmente não esteja bem. Uma pessoa comenta algo comigo e depois penso. Converso aleatoriamente no almoço com a mesma. Me enrolando no meio das palavras, acabo me abrindo. Falando tudo que havia mentido para mim - que estava tudo bem. "Confessando'', enfim, que não conseguia aceitar quem sou, novamente. Só que desta vez com olhos de pouca perspectiva, lágrimas aos montes e sentimentos mais sérios. Autocrítica.
Devido a algumas coisas que aconteceram no passado, passei a entender que ''eu'' não era suficiente. Devia haver alguma forma de ser melhor ou pelo menos, de ser menos pior do que eu já era. Então, a partir daí, passei a não perdoar mais meus erros. A entender que eles eram completamente inaceitáveis. Só que isso se tornou em um vício.
Minha conselheira disse que eu precisava esperar. Que eu precisava de tempo e outras coisas também. Meu desespero parecia menor. Parecia.
Então, a rotina voltou a tona. Mas meu estado, não. No meio disso acabei vendo muita coisa sobre amizade. Quem eles são diante dos problemas, quem eu esperei que eles fossem também. Enfim, tudo muito estranho. Estava me sentindo uma pirada idiota que não sabe entrar nos eixos antes do vestibular. Que estava fazendo uma baita birra diante de Deus. Só que na verdade, eu sabia que não era assim. Eu estava me sentindo muito frustrada. A cada momento em que eu sentia que o tempo estava sendo desperdiçado eu me frustrava. A mentira que eu dizia a minha mãe, fingindo que estava bem me deixava frustrada. Cada simulado que não ia bem, me frustrava horrores. Cada fuga minha diante de Deus, me fazia sentir uma covarde. Não estava entendendo como eu podia ser tão incopetente e burra. A cada dia que se passava, eu tentava encontrar uma solução, mas meus pensamentos só foram se bagunçando mais, meus sentimentos balançavam, tudo mais confuso e frustrativo.
Tenho aulas particulares de exatas. Porque gosto de ler e escrever, não resolver contas. Além da dificuldade. Gosto muito de meu professor particular. Ele é o exemplo de paciência. Não sei se outra pessoa conseguiria fazer eu estudar tanto quanto eu estudei com todas suas palavras de incentivo e calma em meio ao meu desespero típico.
Um dos meus maiores medos com a autocrítica é decepcionar alguém. De alguma forma, a mim, não conseguir suprir o que os outrosesperam de mim(dentro da realidade de quem sou e o que sou capaz de fazer) é uma das piores sensações. Neste contexto, a cada véspera de aula particular, dentro crise, foi um dia de stress árduo. Não queria decepcionar meu professor.
Ao passar de algumas dessas aulas na crise, eu não falei nada a meu respeito a ele. Não fazia sentido, achei. Porque minha crise, principalmente, era espiritual. Apesar de ele ser cristão também. E acredito que fui decepcionando ele. O que fez o gráfico da frustração crescer. Droga.
Até que um dia, sentamos para conversar e fomos analisando. Chegamos a uma conclusão depois de muita conversa. Eu não havia corrigido as provas que estava fazendo. Não sabia que eu precisava corrigir. Então o que fazia meu ritmo demorar tanto para subir começou a fazer algum sentido. Era alguma explicação. Depois que ele foi embora, fui falar com Deus, passado bastante tempo que não falava com Ele. Falei o quanto me aliviei e comecei a me animar. Ao longo da conversa, eu disse...que não voltaria a Deus porque sabia que podia estar sendo sentimentalista. Ficar toda emocionada por ter encontrado alguma coisa pra fugir desse negócio. E realmente foi algo emocional. No dia seguinte, minha angústia era a mesma, mas a pressão maior.
Havia falado pra Deus que...sabia que aprenderia alguma coisa no meio dessa crise, que eu estava fugindo da crise também. Só não sabia como eu podia superá-lo. E os dias foram passando. Passando.
Então, eu comecei a entender que talvez, minha autocrítica fosse algo mais sério do que eu imaginava. Entender também, que se eu nunca aceitasse minhas notas, quem eu sou, eu nunca sairia da crise. Nunca melhoraria.
Estava combinado que eu visitaria a ESPM, com uma onnie(modo de chamar uma conhecida ou amiga, mais velha). Fui para o Centro Cultural tentar estudar de novo. E nada. De novo. Fazer devocional estava fora de questão. Chegaram dois amigos. Ambos, pessoas com quem não converso muito. Em especial um deles, tem uma vida espiritual interessante, que me deixa a vontade de falar com ele alguns assuntos mais sérios. Não falamos nada de mais. Só jogando conversa fora. Queria ter ficado sozinha naquele dia, pensei. Mas quanto mais quieta eu ficava, mais eu pensava, pior eu ficava. Então, tanto faz. Um deles vai embora e estava chegando a hora de eu ir à ESPM. Resolvi ir a pé e o outro me acompanharia, aquele com quem conseguia conversar. Estava frio lá fora e escuro também. Fiquei grata por ele ter me acompanhado. Começamos a conversar de como estávamos. Menti e falei que estava bem. Até eu perguntar para ele sobre amizade.
- O que você acha sobre um(a) amigo(a)- aquilo não era uma indireta -esperar que você corra atrás dele(a) quando realmente não está bem?
A partir daí, a conversa foi mais a fundo e acabei falando algumas coisas da crise. Só que com alguns comentários dele eu explodi, toda descontrolada. Conversando mais, ele me acalmou fazendo comentários para eu lembrar que Deus não estaria de olho no meu ''currículo'' no final da vida em qual faculdade tinha entrado.
Comecei a me organizar, deixando de ficar neurótica para sair da crise. Conversei com minha conselheira e comecei a aceitar toda a situação e até, um pouco, quem eu sou.
Então, finalmente, entreguei meu devocional. Depois do tempo que precisei e, depois de aceitar o que tinham a falar.
No domingo daquela semana cheguei cedo e vendo que o pastor tinha chegado cedo também, comecei a conversar com ele. Ele disse que há dois tipos de pessoas, aqueles que se esforçam e conseguem o que buscam, e tem aqueles que agradam a vontade de Deus, na sua justiça, busca, vida.
No final de todos esses 13 dias que me perseguiram com tons de frustração, acabei entendendo como é difícil para mim falhar diante de mim e como é fácil acumular tantos pensamentos negativos e ter uma crise. Com o passar de todo esse processo sempre soube que Deus estava cuidando de mim, mas não queria admití-lo porque estava olhando só para que situação. Convivi o fato que Deus, independente de suas crises sempre está.
Sempre.
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