terça-feira, 31 de julho de 2012

A comunidade das pipas.

Subimos, logo, no primeiro dia, no terraço da igreja. Como as laterais eram todas, praticamente, abertas, pudemos ver amplamente a comunidade. E lá no alto estavam os bandos de pipas voando de um lado pro outro no baixo céu cinza daquele dia. Eram muitos nos telhados em suas engenhocas coloridas e simples. Aquele conjunto voador formava uma vista muito bonita. Aliás, muito representativa do lugar que estávamos; já que permanecia no ar, aquele que sobrevivia.
Ainda penso, e lembro da sensação de estar lá no Rio, na missão. Foi o lugar mais diferente, mais interessante, mais desafiador.
Entramos na comunidade acompanhados com nossos guias, por segurança. Os olhares eram desconfiados e sorriamos suando frio vendo as armas nas mãos de alguns. O lugar era bem sujo, com muitos gatos e cachorros a todo canto, casas e lojas abarrotadas, homens bebendo e fumando. Ainda sim, entramos acompanhados da palavra de Deus, assegurados do que Ele nos prometia do que estava por vir.
Nos preparamos e logo realizamos as *EBF's. Limpamos a igreja Ebenezer, e preparamos tudo que trouxemos. Durante os 3 dias de EBF, aproximadamente 230 crianças vieram. Eles eram bem agitados e foi difícil manter o controle; nos esforçamos para cumprir nosso programa, crendo, enfim, que só podíamos mesmo era preparar um caminho pra Jesus.
No meio de tudo isso, mais do que as EBF's, ou o avivamento a noite, o momento que mais tive contato com Deus foram nos QT's ou momentos de silêncio em que podia refletir e pensar no que eu estava fazendo e aprendendo na missão, e o que estava fazendo como filha e serva de Deus naquele lugar. Só no final da missão pude perceber que estava fazendo as coisas muito no automático, quando li a passagem que Jesus tinha seu tempo com Deus, isolado, para orar. Percebi também, no meio da missão como creio pouco na autoridade de Deus na minha vida mesmo, ignorando milagres que Deus realizou na minha vida desde que o conheci.
Um grande milagre que Deus mostrou ao nosso grupo foi através de uma vida. Seu nome é Alexandre, grande, robusto, muito alto, com voz grossa e andar pesado, um homem que foi muito carinhoso a nossa equipe e compartilhou um pouco do muito que Deus mudou sua vida. Sua vida é testemunho de como Deus é Deus. Ele nos contou, ao mostrar algumas casas com marcas de balas em certas ruas da favela sobre os tiroteios que já participou e locais de encontros que teve com os "irmão", enquanto fazia parte do tráfico de drogas, em que já foi responsável de alguma parte da organização. Cantou, em um dos avivamentos uma música, um rap, que escreveu enquanto estava na prisão, cumprindo a pena, a qual ele mesmo se entregou, falando sobre a alegria que ele tem em Deus.
Senti o amor de Deus através da vida do Alexandre, quando ele nos serviu nos acompanhando e em todas as refeições que nos servia primeiro, seja distribuindo guardanapos, seja servindo a comida, ou nos falando *"mokjaa" ou *"jip eh gajaa". E vi como meu Deus é grande por mudar a vida de um ex-traficante, que nos serviu na missão.

Não sei se algum dia, terei a chance de viver a mesma experiência em meio a uma missão, de estar em uma comunidade, graças ao nome de Deus, servindo um pouco. Só sei que...tudo que vi, senti, presenciei foi...real e que eu não quero voltar a ser simplesmente a mesma coisa.


*EBF é escola bíblica de férias, digamos, que é um culto com apresentações de teatros, louvor, e dinâmicas especialmente às crianças; mokja é "vamos comer" em coreano; jip eh gaja é "vamos para casa", ambos em alfabeto romano, só como referência.

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